Otávio Valente Ruivo
Biólogo do Instituto Orbis de Proteção e Conservação da Natureza
A vida no planeta Terra está organizada a partir de apenas quatro letras basicamente: A, T, C e G. Adenina, Timina, Citosina e Guanina (esta última vira Uracila quando fora do núcleo da célula, no RNA, o ácido ribonucleico), são as bases nitrogenadas que formam o DNA (ácido desoxirribonucleico).
Dependendo da sequência em que estão, expressam um gene, que formará alguma estrutura em um corpo vivo, seja ele humano, de planta, bactéria ou qualquer forma de vida deste nosso planeta. Ainda estamos longe de entendermos totalmente o DNA, mas já sabemos que nem todo ele expressa genes. De qualquer forma, genes são sequências de A, T, C e G dispostos de tal maneira que determinam uma ação pela célula, que pode ser a construção de proteínas, que formam a estrutura dos nossos órgãos, por exemplo, ou a determinação da fabricação de algum hormônio.
O significado disso?
Além de sermos, nós, humanos, organizados, então, por A, T, C e G, que determinam quais órgãos, quais tecidos, quais estruturas, quais hormônios serão feitos em dado momento, o que nos alimentamos também o é. A base é a mesma. Há comunicação direta entre alimento e alimentado.
O DNA organiza tudo a partir de aminoácidos, que são moléculas menores dos alimentos. Quando necessita de um aminoácido para determinada tarefa, busca e o coloca na linha de produção para a construção daquilo que é essencial naquele momento. Existem pelo menos 20 aminoácidos que nós humanos usamos, sendo alguns deles tidos como essenciais à vida.
Tudo o que nos alimentamos também é formado por DNA, que dependendo da sequência em que estão formarão, em uma ideia lúdica para explanação, um pé de alface, um pé de milho, mandioca ou mesmo uma ave, ou uma vaca, tanto quanto nós. Os aminoácidos são as estruturas organizadas pelo DNA em locais específicos para formar aquilo que for necessário.
Em síntese, nos alimentamos de aminoácidos que foram organizados pelo DNA de outro ser vivo para ser um pé de alface completo, um pé de milho completo, uma ave completa, uma vaca completa ou qualquer outro ser que nos alimentemos, completo. Nós buscamos as microestruturas que estão dentro das massas daqueles que nos alimentamos para formarmos nossos próprios corpos, totais, também completos, inteiros.
Daí vem a diversidade na alimentação, os grupos de alimentos, o jogo de cores dos alimentos no prato, para que tenhamos o fornecimento de toda a gama de microestruturas que necessitamos no nosso corpo. E porque tudo, no fim das contas, é formado da mesma maneira, tem a mesma base, a absorção é imediata, simples e tranquila. Novamente: há comunicação entre o alimento e o alimentado.
Quando as pessoas optam por alimentos ultraprocessados, aceitam uma gama muito limitada de nutrientes que necessitamos diariamente. Quase sempre os mesmos. Por exemplo, hoje em dia, uma maçã pode, sim e infelizmente, ser feita por um punhado de soja triturada, com adição de cor artificial de maçã, cheiro artificial de maçã e sabor artificial de maçã. O formato da maçã pode ser arranjado por uma máquina industrial em grande escala para vender muito, com a adição de conservantes, para durar mais que o tempo médio e natural de um alimento. Assim, o dono desses meios de produção ganha milhões em dinheiros, sem sequer pensar na qualidade da alimentação que até os próprios funcionários dele utilizam. Isso sem falar que essa indústria que, hipoteticamente, produz maçã ultraprocessada, é do ramo da “alimentação”, mas alimento verdadeiro, é o que não é.
O modelo da maçã é real, não como maçã, até onde eu saiba, mas como salgadinhos ou como ração para animais de estimação, para dar dois exemplos. Tudo transgênico, atualmente, que é mais um problema alimentício.
Um alimento de verdade é aquele que é o mais próximo da sua natureza, da sua estrutura natural. Aquele que, mesmo que tenha sido construído através das ordens de um DNA, não nos fornece todos os aminoácidos e sais minerais que necessitamos, mas nos fornece uma parcela. O que nos falta, encontramos em outros grupos alimentícios, de outras cores. Isso tudo quer dizer! Isso tudo é comunicação da Natureza. Os alimentos orgânicos são assim: de verdade.
Hipócrates (460 a.C. a 370 a.C), na Grécia antiga, considerado o pai da medicina, disse: “Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio”. O inverso também é verdadeiro: aquilo que não é, pode se tornar a sua doença.
A manutenção das ligações entre os seres do nosso planeta na vida e na morte, quando se transforma em alimento, é uma das chaves para a nossa permanência por aqui. É nesse sentido que as bases da vida trazem a integralidade dos alimentos pois são elas que determinam que o DNA produza seres que nos alimentam de forma completa, de forma inteligível pelo nosso organismo, pois as bases são as mesmas.
Os orgânicos são alimentos ancestrais, são os alimentos que se constituíram parte das nossas gerações anteriores e é por causa deles que hoje estamos aqui.
Melhor que tudo é termos, ainda, a opção dos orgânicos. Como consumidores que procuramos alimentos que nos completam e nos curam, devemos lutar pela ampliação desse mercado, até para que mais opões cheguem à nossa mesa, como alimentos da cozinha tradicional brasileira, oriundos de todos os cantos do País e que ainda não recebem a aclamação e o respeito que merecem.
O alimento orgânico é natureza, mantém a sua integralidade, a sua integridade.